História do PET




Qualidade no Ensino Superior

              

Conheça um pouco mais sobre a história do PET no livro: "Qualidade no Ensino Superior: a luta em defesa do Programa Especial de Treinamento", de Angélica Müller. Abaixo uma pequena resenha da obra:

O PET, inicialmente chamado de Programa especial de treinamento, foi criado em plena ditadura militar (no ano de 1979), pensado originalmente como um programa que valorizasse ensino, pesquisa e extensão, sendo formado por grupos seletos com os “melhores alunos do curso de graduação”, ou seja, como uma elite.
Do inicio do PET até os dias atuais, muita coisa aconteceu, portanto, será exposto brevemente neste texto as suas fases. Na primeira fase do PET (1979-1985), a experimental, os primeiros grupos implementados foram convidados pela CAPES e eram formados por pessoas mais jovem, em faculdades bem desenvolvidas em relação a pesquisa e a pós-graduação, porém, não estava funcionando bem, pelo fato da primeira avaliação só ter acontecido um pouco depois de 1984. Essa falta de acompanhamento e comunicação entre os grupos PET e a CAPES, favoreceu na desestruturação de grupos e perda da filosofia própria do programa.
A segunda fase (1986-1989) foi marcada pela institucionalização do programa com os documentos de orientações básicas de 1987 e 1988. Nessa fase, as IES assumiriam mais o gerenciamento do programa juntamente com a CAPES, e foi determinado que fosse realizado ao término de um semestre, um relatório e um plano de atividades pelos grupos PET, deixando menos soltas as atividades e organização do grupo.
Na a terceira fase (1990-1992), chamada de expansão desordenada, houve aumento quantitativo do numero de grupos PET, não acompanhando a infra-estrutura e os materiais que poderiam ser fornecidos pelas universidades, sem contar que isso prejudicou o acompanhamento das coordenações de área que já eram precárias. Houve menor tempo de permanência dos bolsistas, gerando rotatividade e dificultando a finalização do proposto pelo projeto, mudanças de normas que foram delimitadas no início e tutores auxiliando e acompanhando outros grupos do programa.
Já na quarta fase (1993-1994), a da consolidação, ocorreu uma reorganização do programa, unindo mais a CAPES com as coordenadorias de área, houve um melhor diagnóstico do gerenciamento do programa, mais atenção e auxílio para a produção dos grupos, desativação de grupos que apresentavam baixo rendimento e implantação de novos. Em 1994, no governo de Fernando Henrique Cardoso, Paulo Renato de Souza entrou como ministro da Educação, ele e outros membros da diretoria da CAPES tentaram desestruturar internamente o programa.
Houve duas avaliações sobre a estrutura do programa e dos resultados que vinha alcançando, as duas conseguiram resultados positivos. Mesmo assim, a CAPES queria extinguir o programa com os argumentos de que o PET era elitizado, muito caro pelo número de pessoas que beneficiava na graduação e que não estava atingindo bons resultados. Então os petianos e tutores se revoltaram com a situação, também pelo fato de terem pouca verba para desenvolver suas pesquisas e as bolsas serem cortadas, atrasadas ou diminuídas. O PET foi trocado da diretoria da CAPES pela da SESU, que tratava de assuntos mais voltados à graduação, mas sempre encontrando obstáculos pelo caminho.
Para reverter a situação complicada em que o PET se encontrava, foi criado um movimento pelos tutores e petianos, e, com isso, foi transmitido à população pela mídia, que esse era um programa que poderia melhorar o ensino superior, e que a luta não era restrita para beneficiar apenas aos grupos do programa, e sim lutavam por algo maior, pela educação brasileira de qualidade.
Com a entrada de outra pessoa na secretaria da SESU, Maria Helena Guimarães Castro, o edital para a criação de um programa PET com novas diretrizes (ou seja, a extinção de toda a estrutura e filosofia do PET original) foi cancelado. Essa atitude em favor da luta pelo PET pode ser justificada pelo tamanho, organização e influência que o movimento conseguiu chegar, ficando mais fácil a aceitação do PET original, com todos os seus direitos iniciais. Além disso, haviam questões políticas em jogo, e o melhor a fazer naquela situação era mostrar que o governo estava “do lado” da ampliação de programas que valorizem a graduação e a vida do cidadão.
O PET procura ser aberto a outros alunos que não são petianos, porém, mesmo com divulgação de nossas exposições, debates e seminários, pouquíssimos alunos de fora comparecem. Pode ser por falta de interesse do discente que apenas estuda os textos passados em suas matérias, com o intuito de passar na prova e se formar depressa, ou por não conhecerem direito o programa e as atividades interessantes que podem ser desenvolvidas, e que ficariam ainda mais ricas com a participação de alunos que não fazem parte do PET e que são de cursos e opiniões diversas. Se o aluno deseja uma formação de qualidade, além de um bom professor, necessita fazer por onde, acrescentando conhecimentos diversos.
Para nós, não só o universitário, como todo cidadão, deve procurar entender questões políticas antes de julgá-las, isso se deve ao fato de que, ao entender o porquê das coisas, podemos nos manifestar pelo que nos é de direito, melhorando assim, um a um, a situação da educação e de qualquer outra esfera social.

MÜLLER, Angélica. Qualidade no Ensino Superior: a luta em defesa do Programa Especial de Treinamento. Rio de Janeiro: Garamond, 2003.
Imagem: O Bibliotecário (1566).